Quanto você cobraria por um job em uma negociação?

Amanda, Alexandre Reibaldi

Como já estou há alguns anos no mercado, é muito comum que alunos, colegas e até mesmo colaboradores venham me perguntar quanto cobrar por um job ou freela. Eu, particularmente, não me considero a pessoa ideal para esse tipo de conselho, afinal, ainda não fiquei rico 😛

Mas acho que seria interessante trazer esse debate pra cá, vai que alguém precisa!

Em geral, existem várias maneiras de fazer essa conta. A minha preferida, e que sempre recomendo, é a de horas trabalhadas.

Para os freelancers do mundo:

Antes de tudo, você precisa entender que não deve cobrar só pela execução do projeto. Seu atendimento, pesquisa, custos fixos e repertório precisam entrar nessa conta.

Dificilmente você mandará apenas um e-mail para o cliente antes da aprovação. Todo esse atendimento e processo devem ser levados em consideração.

Lembra das suas noites em claro fazendo TCC, dos dias que você precisou ficar até mais tarde no trabalho, dos sábados que acordou cedo para fazer um curso e das várias horas que passou no Pinterest, Behance, YouTube e outras plataformas buscando referências? Tudo isso também precisa ir para a ponta do lápis.

Aliás, você deve considerar também sua cabeça e seu computador. Se cuidar, trocar os equipamentos e tudo mais aumentam a qualidade das entregas. E tá aqui um segredo: com um custo fixo muito alto, você não tem lucro algum.

Esses são dados mais imprecisos, eu sei, mas muito valiosos. Sem eles, você não seria você e seu trabalho não seria o mesmo. Entende agora o motivo disso tudo fazer parte dessa conta?

Aos meus colegas donos de agência:

Já para uma agência, é preciso considerar todos os hidden costs* e a amortização dos ativos fixos (ativo fixo é todo capital que uma empresa possui em forma de bens, que normalmente são utilizados como tal, e não para gerar mais dinheiro), como computadores, softwares e outros materiais da empresa, ou seja, você não cobra o salário dos seus funcionários e suas outras contas em um único job, mas eles precisam ser pagos de alguma forma.

Aqui na Ctrl+D, usamos uma ferramenta de ERP para ajudar nessa conta. O Enterprise Resource Planning nada mais é que um sistema de gestão da empresa. No software escolhido, os colaboradores marcam quanto tempo levaram para executar uma demanda e o financeiro tem controle de notas e orçamentos na mesma plataforma.

O que é ERP?

Essa é a chamada gestão integrada, que permite melhorar os processos internos, integração com os clientes e fornecedores e dá informações valiosas para a tomada de decisão, permitindo rever a estratégia se necessário. Ela também automatizam vários processos que antes eram feitos manualmente, evitando retrabalhos de certas atividades.

Essa integração deixa os processos mais rápidos e facilita a comunicação entre as áreas aqui da agência (e eu também consigo ficar sabendo quem está fazendo o que em tempo real).

Fica muito mais fácil tomar decisões mais precisas, como decidir qual criativo ficará responsável pelo job. A meu ver, tem coisas que não compensam deixar na mão de alguém mais sênior, principalmente se for algo mais simples. Prefiro deixar um estagiário ou júnior responsável e o sênior apenas “fiscalizando” a entrega e ajudando quando necessário. Esse também é um método de ensinar aos mais novos a responsabilidade e grandiosidade dos projetos e, aos mais velhos, a terem cada vez mais um papel de liderança. Isso é o que eu gosto de chamar de “classificação de mão de obra da equipe”.

Vida de agência

Uma coisa que eu sempre falo é que a agência agencia. Aqui dentro, eu agencio talentos. Os clientes não contratam a Ctrl+D por um monte de computadores e softwares, mas por quem a faz, ou seja, pelos profissionais aqui presentes que atendem de demandas mais simples até as mais complexas.

Hoje, no mercado publicitário, o maior gasto é com salários, a mão de obra. E isso não está nada errado, caso alguém esteja se perguntando.

No fim do dia, é isso que comanda os valores, já que o preço é quanto você cobra por um serviço ou produto e o valor está atrelado ao benefício que ele representa.

O talento e profissionalismo são as peças-chave dessa equação.

E é isso também está relacionado ao que mais me dá medo nessa vida de empreendedor: aumentar o custo fixo. Ou seja, contratar mais gente ou expandir investimento, que pode afetar o valor a ser cobrado.

Pra não ter erro, às vezes, é mais compreensível lidar com custo variável e pagar um freela.

Por exemplo, hoje, aqui na agência, não temos uma equipe de captação de vídeos.

A nossa demanda ainda é um pouco mais baixa para vídeos filmados, são coisas mais esporádicas, então prefiro contratar uma produtora parceira para um freela quando necessário.

Mas as portas estão sempre abertas e, caso essa demanda aumente, por que não adicionar uma equipe de produção?

Se cabe a mim deixar um conselho aqui, é o seguinte: tenha um fluxo de caixa.

Assim, você não sofre tanto em uma negociação. E isso vale tanto para agências quanto para os autônomos que se depararam com esse texto na internet.

Outra coisa, tenha mais de um cliente. Acredite, é importante. Quando você tem um só cliente, você não tem nenhum. Ou pior, você tem um chefe.

É mais vantajoso ter vários clientes, mesmo que pequenos, para não quebrar sua criatividade e para que você não fique preso a uma coisa só, afinal, até casamentos acabam.

Eu particularmente não acho legal um cliente maior pagar mais que um pequeno. Claro que você pode dar mais descontos para os menores, mas não é isso que deve precificar seu trabalho.

O importante é encontrar o meio termo nessa competitividade de custos e lucros. Sem dinheiro, ninguém é feliz (desculpa Monja Coen), mas trabalhar sem amor, só para trocar figurinhas, também não é sustentável.

Ahhh e se alguém souber como ficar rico, favor desconsiderar esta mensagem.

(*) Hidden costs são custos ocultos, ou seja, despesas imprevistas adicionadas às contas.